... (É bem provável que esta
guerra marque um passo decisivo, senão para a fraternidade, pelo menos para a
compreensão mútua. Com a paz de Wilson, o horizonte europeu alargar-se-á; as
ideias de solidariedade humana, de civilização colectiva, tenderão a substituir
as de nacionalidade, etc...)
De qualquer forma, tu verás
vastas transformações, uma refundição. E, o que eu queria escrever, era isto:
parece-me que, nesses tempos que hão-de vir, a opinião pública, as
ideias-forças que a dirigem, terão uma influência crescente, determinante. O
futuro será provavelmente mais plástico do que nunca. O indivíduo terá mais
importância. O homem de valor terá, mais do que no passado, oportunidade de
fazer ouvir e prevalecer a sua opinião; possibilidades de colaborar na
reconstrução.
Tornar-se um homem de valor.
Desenvolver em si uma personalidade que se imponha. Suspeitar das teorias em
vigor. É tentador desembaraçarmo-nos do fardo incómodo da nossa personalidade!
É tentador deixarmo-nos envolver num vasto movimento de entusiasmo colectivo! É
tentador «acreditarmos», porque isso é cómodo, e porque é supremamente
confortável! Saberás resistir à tentação? .. Não será fácil. Quanto mais os
caminhos lhe parecem indecisos, tanto mais o homem se inclina, para sair a
qualquer preço da confusão, a aceitar uma doutrina já feita que o tranquilize,
que o guie. Toda a resposta mais ou menos plausível às questões que ele se
formula e que não consegue resolver sozinho, apresenta-se-lhe como um refúgio;
principalmente se lhe parece confirmada pela adesão da maioria. Maior perigo!
Resiste, recusa as palavras de ordem! Não te deixes filiar! Antes as angústias
da incerteza do que o preguiçoso bem-estar moral oferecido a todo «aderente»
pelos doutrinários. Tactear a sós no escuro, não é nada divertido; mas é um mal
menor. O pior, é seguir docilmente as lanternas que os vizinhos agitam.
Atenção! Que, nesse ponto, a recordação do teu pai te seja um modelo! Que a sua
vida solitária, o seu pensamento inquieto, jamais fixo, te seja um exemplo de lealdade
para consigo mesmo, de escrúpulos, de força interior e de dignidade.
R. Martin du Gard, Os Thibault
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