A minha propensão, e dos
como eu, para o Existencialismo - ou aquilo que se podia, em dado
momento, entender pelo termo -, era um artigo importado de França,
adaptado às circunstâncias da Alemanha em escombros, que se podia
usar como máscara e que nos assentava bem, a nós, os sobreviventes
dos "escuros anos», como o período do poder
nacional-socialista era descrito; ajudava às poses trágicas.
Víamo-nos, conforme era sombrio o humor, ou numa encruzilhada ou
diante do abismo. E a humanidade, no seu conjunto, devia estar numa
posição igualmente de risco. Para o estado de espírito de base, o
poeta Benn e o filósofo Heidegger forneciam citações oportunas. O
resto ficava a cargo da morte atómica, radicalmente posta à prova e
de esperar nos tempos mais próximos.
Deste negócio movimentado
da liquidação total fazia parte o cigarro agarrado ao lábio
inferior. Virado de lado e para baixo, indicava a direcção e
baloiçava, tanto aceso como frio, durante as conversas que se
prolongavam pela noite fora, em que era feito o balanço do ser, sob
o traço final do humano enquanto o "estar-atirado de todo o ser». Tratava-se sempre
do sentido dentro do absurdo, do indivíduo e das massas, do eu
lírico e do nada omnipresente. Uma das figuras discursivas
recorrentes era a do suicídio, também chamado morte voluntária.
Ponderá-la, fumando, num círculo de pessoas, era de bom-tom.
Gunter Grass, Descascando a Cebola
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