Quem
sabe quem se regozijará hoje com uma das cópias, o meu Lehmbruck: o
cliente do comprador anónimo de então ou – após revenda – um
outro proprietário do original fingido; mas ainda continua a pulsar
o desejo de uma oportunidade de lhe pedir a ele, Wilhelm Lehmbruck,
que pouco depois da Primeira Guerra Mundial pôs um fim à vida, que
me perdoe.
Ah,
se eu pudesse pôr à prova o meu método por vezes eficaz do convite
no conjuntivo, e juntá-lo a ele, que Lilli Kröhnert tinha elogiado
como incomparavelmente grande, com os pintores Macke e Morgner, que
caíram jovens perto de Perthes-les-Hurlus e Langenmark, à volta de
uma mesa imaginária.
Sobre
a minha folha de papel, conversaríamos os quatro sobre actualidades
daquele tempo - como se tinha entrado com entusiasmo na guerra -, mas
depois só sobre arte. Em que é que ela se tinha tornado desde
então. Como tinha sobrevivido a todas as interdições, mas como
tinha, mal se libertara das imposições exteriores, amesquinhado em
doutrina e se tinha refugiado no não figurativo.
Poderíamos
fazer pouco da tralha das instalações e da superficialidade em
voga, da mania dos vídeos tremeliquentos e do saltitar, de event
para event, da sucata proclamada como sagrada e do vazio a
abarrotar do eterno presente no domínio da arte.
Gunter Grass, Descascando a Cebola
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