Começou então a parte
mais bela de toda a viagem, que nos fez lamentar não virmos a
cavalo. A estrada afastou-se do rio e iniciou um ataque directo à
parte central do Hindu Kush, escalando os bastiões verdes não em
curvas, mas numa sucessão de seladas com declive acentuado, que
seguia de cumeada em cumeada. De todos os lados, acima e abaixo, e
até onde o olhar alcançava, as escarpas de erva ondulante eram
salpicadas por uma imensa variedade de flores, amarelas, brancas,
roxas e rosa, que cresciam em disposição tão artística, nem muito
próxima nem muito afastada, nem em excessiva profusão de dada
espécie, a ponto de parecer que um qualquer jardineiro principesco,
um Bacon oriental, se atarefara em toda a extensão da cordilheira
montanhosa. Chicórias com as suas flores azuis, malvas-rosa de
caules altos, maciços de centáureas amarelo-limão sobre
protuberâncias castanhas atarracadas, manchas de pequenas espigas
brancas semelhantes ao jasmim, uma grande saxífraga de folhas
sarapintadas, uma florinha amarelo-manteiga com centro castanho
semelhante à almiscareira de jardim, molhos de urtigas azuis e
cor-de-rosa sem picos nas folhas e raminhos de helicónia rosada,
eram apenas algumas das flores que tremeluziam no meio daquele imenso
relvado como que coberto de esmalte, emoldurado pelas nuvens lá no
alto e as perpétuas ondulações do Turquestão cá em baixo, e
espreitavam também por baixo de arbustos de pistácia, enquanto
avançávamos aos soluços por entre fumarada, amaldiçoando o nosso
camião vandalizador, até ao cimo do desfiladeiro de Kampirak.
Robert Byron, A Estrada para Oxiana
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