-
Animais que conduzem?
-
Exactamente: porque na cidade os homens têm uma outra definição,
já não os definimos como antigamente. Já não são animais
racionais, já não são animais políticos, como lhes chamava
Aristóteles. Nas cidades, os homens são animais que conduzem. Eis a
definição certa e contemporânea. Na cidade, o homem é um animal
que por vezes sai do carro.
-
Por vezes, sim.
-
Sai do carro como quem tira o casaco de cima dos ombros.
-
Só tira o casaco quando não tem frio.
-
Só sai do carro quando chegou ao destino.
-
Eis a cidade.
-
Na Grécia Antiga, a palavra destino, diga-se, tinha uma conotação
bem mais forte. Destino como algo que determinava o sentido da
existência, por exemplo. Soava um pouco melhor.
-
Pois sim. Mas numa cidade moderna, o destino é o sítio onde o homem
sai de dentro do carro.
-
Eis, pois, ao que estamos reduzidos.
-
O grande destino do homem é um parque de estacionamento.
-
Não seja cínico, Excelência.
-
Ok. Não serei cínico.
Gonçalo
M. Tavares, O Torcicologologista, Excelência
Sem comentários:
Enviar um comentário