«Cá
estou eu, no meio do horror», pensou, tentando exagerar a situação,
na esperança de se convencer de que o pior do que acontecera estava
ali. Mas não resultou. A chegada brusca do vento era um novo
presságio: associava-o ao que ia acontecer. O som era agora
singular, vinha por baixo da porta, era como o de um animal. Se ao
menos pudesse desistir, descontrair-se, e viver no perfeito
conhecimento de que não havia esperança. Mas não existia esse
conhecimento, nenhum, nenhuma certeza; o tempo que vinha trazia
sempre consigo mais do que uma direção possível. Não se pode
desistir da esperança. O vento sopraria, a poeira estaria ali e de
alguma maneira, ainda que imprevisível, o tempo traria uma mudança
que podia ser aterradora, uma vez que não seria a continuação do
presente.
Paul Bowles, O Céu que nos Protege
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