Ninguém faz
história, ninguém a vê, do mesmo modo que ninguém é capaz de ver
crescer a erva na terra. As guerras, as revoluções, os czares, os
Robespierre, são os seus fermentos orgânicos, são a sua levedura.
As revoluções produzem homens de acção, fanáticos munidos de
antolhos, génios limitados. Em poucas horas, em poucos dias, deitam
a terra a velha ordem estabelecida. As revoluções duram semanas,
anos; mas, depois, durante décadas ou durante séculos, venera-se
como coisa sagrada esse espírito de mediocridade que as impulsionou.
Os seus
lamentos acerca de Lara eram também lamentações sobre esse Verão
distante passado em Meliuzeiev, quando a revolução era um deus
descido do céu à terra, o deus desse Verão, quando cada um era
louco à sua maneira, quando a vida de cada um existia por si mesma e
não para confirmar a exactidão da política suprema. Enquanto fazia
estas anotações verificou de novo e desenvolveu o tema de que a
arte serve sempre a beleza e que a beleza reside na felicidade de
possuir uma forma. Por sua vez a forma é o pressuposto orgânico da
existência e todo o ser vivo deve possuir uma forma para existir, e
do mesmo modo a arte, incluindo a arte trágica, é uma narração da
felicidade de existir.
Boris
Pasternak, Doutor Jivago
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