quinta-feira, 11 de março de 2010

"Quando chega a Primavera, fresca, chuvosa com inesperadas flores amarelas, acontece lembrar-me do passado, enquanto verifico se a carne foi arrumada e manejo os sacos prateados de chá e uvas "passas". Lembro-me de como nascia o sol, do voo das andorinhas rasando a erva e recordo as frases que Bernard construía quando éramos crianças e as folhas inumeráveis e leves se agitavam sobre as nossas cabeças fragmentando o azul do céu e espalhando sombras e luzes errantes nas raízes das faias onde eu me sentava soluçando. A pomba levantava voo. E eu saltava e corria atrás das palavras que escapavam, deslizando de ramo em ramo como o fio de um balão. Depois, como um vidro que se estilhaçasse, a imobilidade da manhã quebrava-se e, pousando os sacos de farinha, eu pensava.«A vida está à minha volta como o vidro em torno dos juncos aprisionados.»"


Virginia Woolf, As Ondas

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