quinta-feira, 10 de setembro de 2009

"Sentia-se muitas vezes forçado a relacionar-se com acontecimentos, pessoas, coisas, até consigo próprio, como se em tudo isso houvesse simultaneamente um enigma insolúvel e uma afinidade inexplicável e não totalmente justificável. Tudo lhe parecia compreensível como se fosse palpável, mas sem se deixar traduzir por completo em palavras e pensamentos. Entre os acontecimentos e o seu eu, e mesmo entre os seus próprios sentimentos e um qualquer eu mais íntimo que ansiava por compreendê-los, havia sempre uma linha divisória que recuava como um horizonte diante do seu anseio, quanto mais ele dela se aproximava. Quanto mais rigorosamente apreendia as sensações com os pensamentos, quanto mais familiares elas se tornavam, tanto mais pareciam, ao mesmo tempo, ser-lhe estranhas e imcompreensíveis; já nem parecia que elas lhe fugiam, era como se ele próprio delas se afastasse sem poder desfazer a ilusão de se estar a aproximar"
Robert Musil, As Perturbações do Pupilo Törless

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