domingo, 29 de novembro de 2009

"- Perguntaste em que é que acredito - começou. - Acredito que todos os preceitos da nossa moral são concessões a uma sociedade de selvagens.
«Acredito que nenhum deles está certo.
«Há um segundo sentido que assoma por detrás. Um fogo que devia derretê-los e transformá-los.
«Acredito que nada chegou ainda ao fim.
«Acredito que nada alcançou o equilíbrio, mas que todas as coisas aspiram a elevar-se, apoiando-se umas nas outras.
«É nisto que acredito; nasci com estes princípios, ou eles comigo.»
(...)
- A moral que herdámos equivale a mandarem-nos caminhar sobre uma corda bamba estendida por cima de um abismo - disse -, deixando-nos apenas um conselho: Fica hirto, não te mexas muito!
«Tudo indica que eu, sem nada fazer por isso, nasci com outra moral. «Perguntaste em que é que eu acredito. Acredito que podem tentar mostrar-me, com base nas melhores razões vigentes, que uma coisa é boa ou bela; é-me totalmente indiferente, porque eu me oriento única e simplesmente pelo sinal que me diz se a sua proximidade me eleva ou me faz descer. Se isso me desperta para a vida ou não. Se é só a minha língua, ou o meu cérebro, que falam disso, ou o frémito vibrante nas pontas dos meus dedos.
«Mas também não tenho como provar nada. (...)"
Robert Musil, O Homem sem Qualidades

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