sábado, 14 de maio de 2011

Julgamos que conforme o nosso desejo modificaremos as coisas à nossa volta, julgamo-lo porque, fora dessa, não vemos qualquer solução favorável. Não pensamos na que se verifica mais frequentemente e que também é favorável: não chegamos a modificar as coisas conforme o nosso desejo, mas a pouco e pouco o nosso desejo modifica-se. A situação que esperávamos modificar porque nos era insuportável torna-se-nos indiferente. Não pudemos superar o obstáculo, como queríamos a todo o custo, mas a vida fez-nos contorná-lo e superá-lo, e então, voltando-nos para o longínquo do passado, mal o avistamos, de tal modo se tomou imperceptível.
Marcel Proust, Em Busca do Tempo Perdido (VI - A Fugitiva)

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