sábado, 14 de maio de 2011

Um dos poderes do ciúme é o de nos revelar o quanto a realidade dos factos exteriores e dos sentimentos da alma é algo de desconhecido e que se presta a mil suposições. Julgamos saber exactamente as coisas, e o que pensam as pessoas, pela simples razão de que isso não nos interessa. Mas, assim que temos o desejo de saber, como sucede ao ciumento, ficamos então com um vertiginoso caleidoscópio em que já não distinguimos nada. Albertine enganara-me? Com quem? Em que casa? Em que dia? No dia em que me dissera qualquer coisa, em que eu me lembrava de ter dito isto ou aquilo durante o dia? Eu não sabia de nada. Nem tão-pouco sabia quais eram os seus sentimentos por mim, se eram inspirados pelo interesse ou pela ternura.
Marcel Proust, Em Busca do Tempo Perdido (VI - A Fugitiva)

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