terça-feira, 13 de setembro de 2011

Parei aí, pois partia no dia seguinte; e, aliás, era a hora em que me reclamava o outro amo ao serviço de quem passamos todos os dias metade do nosso tempo. A tarefa a que nos obriga, realizamo-la de olhos fechados. Todas as manhãs nos restitui ao nosso outro amo, sabendo que se assim não fosse não nos dedicaríamos à sua como deve de ser. Curiosos, quando o nosso espírito reabre os olhos, de saber o que teremos feito às ordens do senhor que deita os seus escravos antes de os sujeitar a uma tarefa precipitada, os mais espertos, assim que terminam a tarefa, procuram sub-repticiamente olhar. Mas o sono disputa com eles em velocidade para fazer desaparecer os vestígios do que eles queriam ver. E, passados tantos séculos, não sabemos grande coisa a esse respeito.
Marcel Proust, Em Busca do Tempo Perdido (VII  - O Tempo Redescoberto)

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