sábado, 21 de janeiro de 2012

A Catedral de Toledo possui toda a casta de maravilhas que um rei, um sábio e santo poderiam idealizar. Possui a riqueza, os motivos de meditação e de estudo, e a atmosfera íntima, sombria e adequada à oração, às visões e ao recolhimento das lágrimas. A luz que entra pelos seus vitrais, cujos vermelhos rutilantes e secretos nos enchem de alegria inexplicável, não chega para iluminar a nave e as capelas, os sepulcros e a fisionomia das estátuas jacentes, das virgens orantes e dos murais. Muito se perde naquela penumbra feita para o cintilar das tiaras e dos trajos coalhados de pedraria. Fica-nos uma ideia de fausto aprisionado em grades negras com leves luares no seu ferro polido, e uma ou outra paragem diante de Nuestra Señora la Blanca, de sorriso irónico e desprevenido, como os que podemos ver em Chartres, ou diante das pinturas da sacristia, onde se nos apresentam arcebispos de Toledo - Carranza e Cisneros também. 
Agustina Bessa-Luís, Embaixada a Calígula

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