sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Que ânimo era o seu senão o da paciência e o da modéstia que o fazia viver com intimidade, sem surpresas entre as obrigações mais díspares? Diante dele, os soberanos depõem a sua etiqueta, e as infantas são apenas crianças anémicas que sorriem entre surpreendidas e com o pensamento nos seus jogos. Só aquele que é, ao mesmo tempo, génio da sensibilidade e do quotidiano, servo e cativo do seu trabalho, sem alma para outra coisa que não seja fino mester de captar e de ver, pode pintar assim. Não é o maior dos homens, o fleumático Velázquez, constante, fiel, talento do triste e ignorante do desespero. Mas é talvez o maior dos pintores, aquele que soube viver com todo o seu mundo, sem distinguir entre uma rainha e um bobo, aplicando a ambos a mesma justiça que era a graça suprema dos seus pincéis. 
Agustina Bessa-Luís, Embaixada a Calígula

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