terça-feira, 7 de fevereiro de 2012


É preciso estar muito perto da terra ainda, perto dos gestos simples, dos hábitos duma gente que nasce e morre sem complicações, para desenhar tão livremente a mãe que estende os braços para o recém-nascido, ou as figuras sentadas daquelas outras, cheias duma dor abandonada e dura, de camponesas, diante do Cristo morto. Este homem, no limiar da Renascença, seguindo entre os penhascos o seu rebanho e pintando nos muros das igrejas com a leveza infatigável com que desenhava sobre as rochas a forma dos animais, deixa uma prodigiosa lição para ser decifrada. «A arte caiu depois de Giotto» - escreve Leonardo. Ele sabe que esse mestre possuía a grandeza das coisas necessárias, o ritmo fresco da vida, a solenidade do sentimento exacto. A Renascença não fez mais do que adulterar e explorar tudo isto.

Agustina Bessa-Luís, Embaixada a Calígula

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