A luta dos pobres por um
pouco de paz, refiro-me à chamada questão proletária, é também,
por assim dizer, uma coisa interessante e mais passível de animar um
espírito intrépido do que a questão de saber se uma casa se
enquadra ou não na paisagem. Quantas cabeças ociosas e
grandiloquentes não há agora no mundo! Sem dúvida, todas as
cabeças pensantes são importantes e todas as questões são
preciosas, mas para qualquer cabeça seria mais decente e honrado
resolver primeiro as questões de vida e só depois tentar solucionar
as refinadas questões da arte. É certo que as questões artísticas
por vezes são também questões de vida, mas as questões de vida
são questões artísticas num sentido de longe mais elevado e nobre.
Claro que, se agora penso assim, é porque nada me preocupa mais do
que a minha subsistência, é porque tenho de escrever mensagens
empresariais a troco de um magro salário, e se não consigo
simpatizar com a sobranceria da arte, é porque de momento nada no
mundo me parece mais secundário; e, com efeito, basta pensar: o que
é a arte quando comparada com a natureza que constantemente morre e
constantemente se renova? De que meios dispõe a arte quando quer
representar o perfume de uma árvore em flor ou o rosto de uma
pessoa? Bom, estou a ser um pouco insolente, estou a falar de nariz
empinado, não, estou antes a falar com alguma raiva, a falar
subterraneamente, das profundezas, que é onde está quem não tem
dinheiro. Em suma, sinto-me crítico e ao mesmo tempo triste porque
não tenho dinheiro. Tenho de arranjar dinheiro, isso é óbvio.
Dinheiro emprestado não é dinheiro, o dinheiro tem de ser ganho com
trabalho ou roubado ou recebido como presente. E depois há ainda
mais uma coisa: o fim do dia! Quando chega o fim do dia, sinto-me
geralmente cansado e sem coragem.»
Robert Walser, Os Irmãos Tanner
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