quarta-feira, 17 de outubro de 2012

A luta dos pobres por um pouco de paz, refiro-me à chamada questão proletária, é também, por assim dizer, uma coisa interessante e mais passível de animar um espírito intrépido do que a questão de saber se uma casa se enquadra ou não na paisagem. Quantas cabeças ociosas e grandiloquentes não há agora no mundo! Sem dúvida, todas as cabeças pensantes são importantes e todas as questões são preciosas, mas para qualquer cabeça seria mais decente e honrado resolver primeiro as questões de vida e só depois tentar solucionar as refinadas questões da arte. É certo que as questões artísticas por vezes são também questões de vida, mas as questões de vida são questões artísticas num sentido de longe mais elevado e nobre. Claro que, se agora penso assim, é porque nada me preocupa mais do que a minha subsistência, é porque tenho de escrever mensagens empresariais a troco de um magro salário, e se não consigo simpatizar com a sobranceria da arte, é porque de momento nada no mundo me parece mais secundário; e, com efeito, basta pensar: o que é a arte quando comparada com a natureza que constantemente morre e constantemente se renova? De que meios dispõe a arte quando quer representar o perfume de uma árvore em flor ou o rosto de uma pessoa? Bom, estou a ser um pouco insolente, estou a falar de nariz empinado, não, estou antes a falar com alguma raiva, a falar subterraneamente, das profundezas, que é onde está quem não tem dinheiro. Em suma, sinto-me crítico e ao mesmo tempo triste porque não tenho dinheiro. Tenho de arranjar dinheiro, isso é óbvio. Dinheiro emprestado não é dinheiro, o dinheiro tem de ser ganho com trabalho ou roubado ou recebido como presente. E depois há ainda mais uma coisa: o fim do dia! Quando chega o fim do dia, sinto-me geralmente cansado e sem coragem.» 
Robert  Walser, Os Irmãos Tanner

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