Os quinze dias em Veneza
passaram depressa e docemente - talvez com demasiada doçura;
afogava-me em mel, não sofria. Em alguns dias, a vida tinha o ritmo
da gôndola, quando metíamos pelos canais secundários e o barqueiro
soltava o seu grito de aviso, musical, dorido, tal como o de uma ave;
noutros, era a lancha rápida que saltava sobre a laguna numa
corrente de espuma iluminada pelo Sol; esses quinze dias deixaram-me
confusas recordações de violenta luz de sol sobre as areias e frios
interiores em mármore; de água por todo o lado, marulhando de
encontro à pedra lisa, reflectida numa mancha de luz sobre os tectos
pintados; de uma noite no palácio Corombona, tal como Byron deve ter
conhecido e de outra noite byroniana à pesca dos scampi nos baixios
de Chioggia; o sulco fosforescente do pequeno barco, a lanterna a
balouçar na proa e a rede cheia de ervas, areia e peixes que se
debatiam; de melão e prosciutto na varanda ao frio da manhã;
de sandes de queijo quente e cocktails de champanhe no bar do
Harry.
Evelyn Waugh,
Reviver o Passado em Brideshead
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