terça-feira, 11 de dezembro de 2012


Os quinze dias em Veneza passaram depressa e docemente - talvez com demasiada doçura; afogava-me em mel, não sofria. Em alguns dias, a vida tinha o ritmo da gôndola, quando metíamos pelos canais secundários e o barqueiro soltava o seu grito de aviso, musical, dorido, tal como o de uma ave; noutros, era a lancha rápida que saltava sobre a laguna numa corrente de espuma iluminada pelo Sol; esses quinze dias deixaram-me confusas recordações de violenta luz de sol sobre as areias e frios interiores em mármore; de água por todo o lado, marulhando de encontro à pedra lisa, reflectida numa mancha de luz sobre os tectos pintados; de uma noite no palácio Corombona, tal como Byron deve ter conhecido e de outra noite byroniana à pesca dos scampi nos baixios de Chioggia; o sulco fosforescente do pequeno barco, a lanterna a balouçar na proa e a rede cheia de ervas, areia e peixes que se debatiam; de melão e prosciutto na varanda ao frio da manhã; de sandes de queijo quente e cocktails de champanhe no bar do Harry.

Evelyn Waugh, Reviver o Passado em Brideshead

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