sábado, 18 de maio de 2013


«Telefonei para a casa grande, mas eles tinham saído; um pouco aliviado dirigi-me ao Café Al Aktar na esperança de encontrar alguns conhecidos. Só lá estava o inefável Darley. Gosto muito dele. Aprecio nomeadamente a sua maneira de sentar-se sobre as mãos, muito excitado, quando se lança desvairadamente numa discussão artística, coisa infalível se me apanha desprevenido - sei lá porquê? Respondo-lhe o melhor que posso enquanto vou sorvendo o meu arak. Mas esse género de debate arrasa-me. A arte é coisa que não existe para o artista, da mesma forma que não existe para o público; é uma noção que só tem sentido para os críticos. O artista e o público contentam-se com registar, como um sismógrafo, uma carga eletromagnética que não se pode racionalizar. Tudo o que se sabe é que se produz uma vaga transmissão, verdadeira ou falsa, com ou sem resultado, segundo o caso. Mas pretender analisá-la, não conduz a nada. (E suspeito que este conceito de arte é comum a todos os que se sentem capazes de se lhe abandonar!) Paradoxo. Enfim, adiante. 
Lawrence Durrel, O Quarteto de Alexandria. Mountolive

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