Antoine calara-se. Era-lhe
bastante difícil falar durante vários minutos seguidos. Mas
continuava a reflectir sobre as mesmas coisas, pela centésima, pela
milésima vez. «Fica-se espantado -dizia consigo- quando se mede
friamente tudo o que se opõe à pacificação dos homens ... Quantos
séculos ainda até que a evolução moral -se é que há uma
evolução moral- tenha enfim purgado a Humanidade da sua
intolerância instintiva, do seu respeito inato pela força bruta,
desse prazer fanático que sente o animal humano em triunfar pela
violência, em impor, pela violência, a sua maneira de sentir, de
viver, aos que, mais fracos, não sentem, não vivem como ele?.. Além
disso, há a política, os governos... Para a autoridade que
desencadeia a guerra, para os homens do poder que a decidem e que
fazem que os outros a façam, isso será sempre, na hora da falência,
uma solução muito tentadora, muito fácil... Poder-se-á esperar
que alguma vez os governos não recorram a ela?... Será preciso que
isso se lhes tenha tornado impossível: seria então preciso que o
pacifismo tivesse tais raízes, na opinião, tivesse adquirido tal
extensão, que opusesse um intransponível obstáculo à política
beligerante dos Estados. Mas é uma quimera esperar por isso ... E o
triunfo do pacifismo seria por si só uma séria garantia de paz?
Mesmo que, um dia, nos nossos países, os partidos pacifistas
galgassem o poder, quem nos diria que eles não cederiam à tentação
de fazer a guerra pelo prazer de impor, pela violência, a ideologia
pacifista ao resto do Mundo?...
R. Martin du Gard, Os Thibault
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