domingo, 23 de fevereiro de 2014



Antoine calara-se. Era-lhe bastante difícil falar durante vários minutos seguidos. Mas continuava a reflectir sobre as mesmas coisas, pela centésima, pela milésima vez. «Fica-se espantado -dizia consigo- quando se mede friamente tudo o que se opõe à pacificação dos homens ... Quantos séculos ainda até que a evolução moral -se é que há uma evolução moral- tenha enfim purgado a Humanidade da sua intolerância instintiva, do seu respeito inato pela força bruta, desse prazer fanático que sente o animal humano em triunfar pela violência, em impor, pela violência, a sua maneira de sentir, de viver, aos que, mais fracos, não sentem, não vivem como ele?.. Além disso, há a política, os governos... Para a autoridade que desencadeia a guerra, para os homens do poder que a decidem e que fazem que os outros a façam, isso será sempre, na hora da falência, uma solução muito tentadora, muito fácil... Poder-se-á esperar que alguma vez os governos não recorram a ela?... Será preciso que isso se lhes tenha tornado impossível: seria então preciso que o pacifismo tivesse tais raízes, na opinião, tivesse adquirido tal extensão, que opusesse um intransponível obstáculo à política beligerante dos Estados. Mas é uma quimera esperar por isso ... E o triunfo do pacifismo seria por si só uma séria garantia de paz? Mesmo que, um dia, nos nossos países, os partidos pacifistas galgassem o poder, quem nos diria que eles não cederiam à tentação de fazer a guerra pelo prazer de impor, pela violência, a ideologia pacifista ao resto do Mundo?...
R. Martin du Gard, Os Thibault

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