«Todos os homens reclamam
a paz - dizia Antoine consigo mesmo, pensando na frase de Jenny. -
Será verdade?.. Eles reclamam-na logo que ela está comprometida...
Mas a intolerância recíproca dos homens, o seu instinto combativo,
tornam-na precária quando a conseguem ... Lançar sobre os governos
e a política a responsabilidade das guerras, naturalmente! Mas não
esquecer, nessa responsabilidade, a parte que cabe à natureza humana
... Na base de todo o pacifismo há este postulado: a crença no
progresso moral do homem. Esta crença, tenho-a - ou melhor: tenho
sentimentalmente necessidade de a ter: não me posso resolver a
pensar que a consciência humana não seja infinitamente
aperfeiçoável! Tenho necessidade de acreditar que, um dia, a
Humanidade saberá estabelecer a ordem e a fraternidade no planeta...
Mas para realizar essa revolução não será bastante a vontade nem
o martírio de alguns sábios: serão precisos séculos de evolução;
milénios, talvez... (Que se pode esperar de verdadeiramente grande
de um homem do século XX?... ) E então, por mais que me empenhe,
não consigo encontrar, em tão longínqua perspectiva, com que me
consolar de ter de viver entre a fauna voraz do mundo actual... »
R. Martin du Gard, Os Thibault
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