quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Quem sabe quem se regozijará hoje com uma das cópias, o meu Lehmbruck: o cliente do comprador anónimo de então ou – após revenda  um outro proprietário do original fingido; mas ainda continua a pulsar o desejo de uma oportunidade de lhe pedir a ele, Wilhelm Lehmbruck, que pouco depois da Primeira Guerra Mundial pôs um fim à vida, que me perdoe.
Ah, se eu pudesse pôr à prova o meu método por vezes eficaz do convite no conjuntivo, e juntá-lo a ele, que Lilli Kröhnert tinha elogiado como incomparavelmente grande, com os pintores Macke e Morgner, que caíram jovens perto de Perthes-les-Hurlus e Langenmark, à volta de uma mesa imaginária.
Sobre a minha folha de papel, conversaríamos os quatro sobre actualidades daquele tempo - como se tinha entrado com entusiasmo na guerra -, mas depois só sobre arte. Em que é que ela se tinha tornado desde então. Como tinha sobrevivido a todas as interdições, mas como tinha, mal se libertara das imposições exteriores, amesquinhado em doutrina e se tinha refugiado no não figurativo.
Poderíamos fazer pouco da tralha das instalações e da superficialidade em voga, da mania dos vídeos tremeliquentos e do saltitar, de event para event, da sucata proclamada como sagrada e do vazio a abarrotar do eterno presente no domínio da arte. 
Gunter Grass, Descascando a Cebola

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