domingo, 7 de fevereiro de 2016

Começou então a parte mais bela de toda a viagem, que nos fez lamentar não virmos a cavalo. A estrada afastou-se do rio e iniciou um ataque directo à parte central do Hindu Kush, escalando os bastiões verdes não em curvas, mas numa sucessão de seladas com declive acentuado, que seguia de cumeada em cumeada. De todos os lados, acima e abaixo, e até onde o olhar alcançava, as escarpas de erva ondulante eram salpicadas por uma imensa variedade de flores, amarelas, brancas, roxas e rosa, que cresciam em disposição tão artística, nem muito próxima nem muito afastada, nem em excessiva profusão de dada espécie, a ponto de parecer que um qualquer jardineiro principesco, um Bacon oriental, se atarefara em toda a extensão da cordilheira montanhosa. Chicórias com as suas flores azuis, malvas-rosa de caules altos, maciços de centáureas amarelo-limão sobre protuberâncias castanhas atarracadas, manchas de pequenas espigas brancas semelhantes ao jasmim, uma grande saxífraga de folhas sarapintadas, uma florinha amarelo-manteiga com centro castanho semelhante à almiscareira de jardim, molhos de urtigas azuis e cor-de-rosa sem picos nas folhas e raminhos de helicónia rosada, eram apenas algumas das flores que tremeluziam no meio daquele imenso relvado como que coberto de esmalte, emoldurado pelas nuvens lá no alto e as perpétuas ondulações do Turquestão cá em baixo, e espreitavam também por baixo de arbustos de pistácia, enquanto avançávamos aos soluços por entre fumarada, amaldiçoando o nosso camião vandalizador, até ao cimo do desfiladeiro de Kampirak.
Robert Byron, A Estrada para Oxiana

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