sábado, 27 de janeiro de 2018

«Cá estou eu, no meio do horror», pensou, tentando exagerar a situação, na esperança de se convencer de que o pior do que acontecera estava ali. Mas não resultou. A chegada brusca do vento era um novo presságio: associava-o ao que ia acontecer. O som era agora singular, vinha por baixo da porta, era como o de um animal. Se ao menos pudesse desistir, descontrair-se, e viver no perfeito conhecimento de que não havia esperança. Mas não existia esse conhecimento, nenhum, nenhuma certeza; o tempo que vinha trazia sempre consigo mais do que uma direção possível. Não se pode desistir da esperança. O vento sopraria, a poeira estaria ali e de alguma maneira, ainda que imprevisível, o tempo traria uma mudança que podia ser aterradora, uma vez que não seria a continuação do presente. 
Paul Bowles, O Céu que nos Protege

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