sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Quando chegou a vez de Stravinsky, trinta e quatro anos mais tarde, o corpo foi levado de avião de Nova Iorque para Roma, e depois de Carro para Veneza, onde havia cartazes pretos e roxos afixados em todo o lado: A CIDADE DE VENEZA PRESTA HOMENAGEM AOS RESTOS MORTAIS DO GRANDE MÚSICO IGOR STRAVINSKY, QUE, NUM GESTO DE PRECIOSA AMIZADE, PEDIU PARA SER ENTERRADO NA CIDADE QUE AMOU ACIMA DE TODAS AS OUTRAS. O arquimandrita de Veneza dirigiu a cerimónia grega ortodoxa na Basílica de São João e São Paulo, depois o caixão foi transportado até à estátua de Colleoni e seguiu para um barco fúnebre movido a remos por quatro gondoleiros, rumo ao cemitério da ilha de San Michele. Aí, o arquimandrita e a viúva de Stravinsky deitaram terra sobre o caixão, quando ele baixou à sepultura. Francis Steegmuller, o grande estudioso de Flaubert, seguiu os eventos do dia. Disse que, quando o cortejo saiu da basílica para o canal, com os Venezianos debruçados em todas as janelas, a cena se assemelhou a «um dos cortejos sumptuosos de Carpaccio». Mais, muito mais do que protocolo. 

Julian Barnes, Nada a Temer

Sem comentários:

Enviar um comentário