segunda-feira, 30 de abril de 2018


Ninguém faz história, ninguém a vê, do mesmo modo que ninguém é capaz de ver crescer a erva na terra. As guerras, as revoluções, os czares, os Robespierre, são os seus fermentos orgânicos, são a sua levedura. As revoluções produzem homens de acção, fanáticos munidos de antolhos, génios limitados. Em poucas horas, em poucos dias, deitam a terra a velha ordem estabelecida. As revoluções duram semanas, anos; mas, depois, durante décadas ou durante séculos, venera-se como coisa sagrada esse espírito de mediocridade que as impulsionou.
Os seus lamentos acerca de Lara eram também lamentações sobre esse Verão distante passado em Meliuzeiev, quando a revolução era um deus descido do céu à terra, o deus desse Verão, quando cada um era louco à sua maneira, quando a vida de cada um existia por si mesma e não para confirmar a exactidão da política suprema. Enquanto fazia estas anotações verificou de novo e desenvolveu o tema de que a arte serve sempre a beleza e que a beleza reside na felicidade de possuir uma forma. Por sua vez a forma é o pressuposto orgânico da existência e todo o ser vivo deve possuir uma forma para existir, e do mesmo modo a arte, incluindo a arte trágica, é uma narração da felicidade de existir.

Boris Pasternak, Doutor Jivago

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